quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amor Descartável


Longe de tentativas de reduzir esse assunto tão complexo, vou apenas lançar uma pequena reflexão sobre ele.


Nós vivemos em um mundo imediatista. Queremos que a pizza chegue logo. Queremos que o site carregue depressa. Queremos que nossos amigos atendam os nossos telefonemas e respondam com rapidez os nossos torpedos, SMS ou seja lá o que for. Queremos logo uma porção de coisas. Enfim, a tecnologia agilizou muitas coisas nas nossas vidas. E ela nos deixou mal acostumados também...


E ainda tem o capitalismo atrelado a tudo isso que foi mencionado. Ah, como somos ingênuos ao deixar que esse sistema influencie também no nosso modo de nos relacionarmos com os outros. Será que alguém já parou para pensar nisso? Bom, vamos lá...


Celular novo hoje. Bom, hoje ele está novo. Amanhã surge um novo modelo e queremos trocar aquele que nós temos. Quantas pessoas tiveram um Super Nintendo e assistiram, com o passar do tempo, a transformação tecnológica dos vídeo games? E dos aparelhos de televisão e dos computadores? E os MP alguma coisa? Eu acho que a contagem dos MP começou no 3 e agora está no MP sei lá que número. Mas o que interessa é que fomos trocando o que não serve mais pelo novinho em folha! Tudo bem! Isso ajuda a economia, o capitalismo, gera empregos, gera progresso! Mas o que isso gera nos relacionamentos amorosos? E alguém hoje em dia tem tempo para pensar em amar?


Paulo está ficando com a Ana. Paulo agora está ficando com a Andressa. E agora com a Mariana. E agora com o Pedro (brincadeirinha)! Os adolescentes “ficam” a fim de se descobrirem e de se apropriarem de si mesmos. Será mera coincidência a semelhança desse trocar de parceiras com o trocar de celular ou de vídeo game pelo o da última geração? Isso porque estou falando do “ficar”... Imagine que hoje em dia já se fala em “pegar”! Eu os chamaria de relacionamentos instantâneos. Relacionamentos com prazo de validade. Infelizmente nós viramos mercadorias de nós mesmos.


É verdade. Nós nos vendemos! Por exemplo, na Internet. Fotos, frases de efeito... Quem é a pessoa que escreve a verdade no “quem sou eu” do Orkut? A maioria coloca trechos de músicas, poemas, uma foto, ou simplesmente não coloca nada. Dificilmente paramos para pensar na resposta para essa pergunta: “quem sou eu?”. Daí surge a Internet: o instrumento para sermos quem nós queremos ser! Ual! A nossa salvação! A salvação para nosso tédio! Com ela temos o controle sobre nossas vidas através de um clique no mouse. Com ela podemos vender a melhor imagem nossa! Maravilha!


Enfim, longe de fazer generalizações, percebo que a maioria dos relacionamentos tem se tornado vazios, servindo apenas para preencher o vazio e a falta de sentido que a vida tem adquirido nos últimos tempos. Só que a vida tem sentido. É que nós dificilmente paramos pensar a respeito dele. Os relacionamentos atuais se ligam intimamente com a descartabilidade do mundo da tecnologia, mencionada acima; ganharam um caráter fugaz. É como se algumas pessoas estivessem ficando ou pegando, não só para experimentar, mas também para “usar” e muito provavelmente, “descartar” por outro alguém “novinho em folha”.

Recomendo o livro de Zygmunt Bauman, “Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos”, que serviu como inspiração para a feitura desse texto.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Quem é Você?

Na correria do dia-a-dia, esta pergunta esvaiu-se. Quem é você? Será que hoje você já tentou responder?


É muito complicado para nós, seres racionais, preocupados mais com nossas razões que emoções, respondermos esta questão. Será que é possível respondê-la sem substantivarmos a resposta? Digo, será que é possível responder, fugindo da lógica: sou advogado, pai de dois filhos, casado, etc.? Tudo bem, as coisas que nós fazemos também podem ajudar a responder esta indagação, mas quem somos nós em nossa essência?


Claro que ao responder isto, além de usarmos como parâmetros aquilo que fazemos, usaremos também como referência o que os outros dizem que nós somos. Pois, é também a partir da relação com os outros que nós nos estabelecemos, formamos a nossa identidade. Mas ninguém pode dizer quem nós somos. Só nós podemos! Afinal, é você que está em contato com você mesmo o tempo inteiro. Mas será que isso é verdade? Será que nós temos nos permitido entrar em contato com nosso mundo interno, com aquilo que de fato nós somos?


O nosso racionalismo não permite que nos comuniquemos com nossa essência, com aquilo que de mais puro existe em nós: os nossos reais motivos, os nossos mais profundos sentimentos.


Seria muito mais coerente se, por exemplo, ao tomarmos uma decisão, ao invés de nos perguntarmos o porquê, nos perguntássemos o para quê. Os “porquês” descrevem as razões e reforçam nosso lado racional, mecânico e volitivo. Os “para quês” descrevem a essência, a pureza, o afeto.


Voltando ao exemplo do advogado. Ao invés de ele responder por que quis ser advogado, ele pode buscar responder “para que” ele quis se tornar advogado. Dessa forma, ele se aproxima mais de saber quem ele é.


Comece a olhar para o passado, para o presente, para o futuro... Ao invés de refletir sobre o “porquê”, reflita sobre o “para que”. Existe uma diferença muito grande entre essas duas perspectivas. Ao conseguir responder o “para que”, acredito que se está mais próximo de conseguir responder: quem é você?


Contudo, responder esta pergunta nos gera angústia, vazio. Por quê? Ah, isso é assunto já abordado aqui no blog... Acesse o link:

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Amar: fácil ou difícil?

Conjugar esse verbo na primeira pessoa do singular parece, às vezes, ser mais fácil que conjugá-lo na primeira pessoa do plural: nós amamos ou nós nos amamos.

O amor é uma das experiências mais subjetivas que o ser humano pode vivenciar. Filósofos e poetas sempre se questionaram se haveria no amor elementos da razão ou apenas fragmentos dela. Será que o amor é feito puramente da emoção? Será que o amor é mesmo feito de alguma coisa ou apenas efeito de algo?

Desde que o homem é homem tenta encontrar explicações para tudo. Mas existiria explicação para o amor? No procurar explicações está implícito o desejo de controlar. Mas será possível controlar o amor? Ao não sabermos ao certo o que ele é, nós é que somos controlados por ele.

Não conseguimos parar de pensar na pessoa amada. E quando conseguimos, ela invade nossos sonhos e perdemo-nos em devaneios. Atônitos, eufóricos, tristes, alegres, tensos, angustiados, agoniados, acovardados, corajosos... O amor é um sentimento que dá vazão a várias outras sensações. Mera ilusão e tolice os que pensam que podem controlar o amor ou fugir dele.

Amor traz felicidade. Amor traz tristeza. Algumas pessoas tem medo de se envolverem e de se entregarem a ele. Se entregar ao amor é se entregar a incertezas. É se entregar a um sentimento que pode trazer felicidade. Porém, toda felicidade é acompanhada pelo terror da infelicidade, pelo temor da perda. E hoje em dia, muitas pessoas não toleram frustrações. Trocam, destrocam, terminam ou começam relacionamentos como o fazem ao comprarem o mais novo modelo celular, pois o antigo já não lhes serve mais.

Diferentemente do celular, da roupa nova, do carro novo, o amor não dá garantia de um ano ou dois. As pessoas se acostumaram mal, pois quando se trata de seres humanos, que garantia se pode esperar? Elas querem ter certeza de tudo e conjugam o verbo amar apenas no singular, pois assim é mais fácil.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Transporte Coletivo

Transporte coletivo é um nome lindo, quase um eufemismo para tratarmos do assunto: ônibus. No ônibus o contato físico coletivo acontece! Muitos de nós estão à mercê da qualidade desse tipo de serviço. Digo qualidade sem conotações positivas ou negativas. Por enquanto!

Há um tempo atrás escrevi uma paródia para a música do Mano Chao, Clandestino, que intitulei Um Busão Lotado. Busão é uma forma carinhosa e quase um disfarce gentil para chamarmos um veículo, que apesar do “ão”, parece não ter espaço algum.

Apesar disso, é interessante observar a dinâmica dentro de um ônibus. Imagine: ele está lotado, não há espaço para passar, você pede licença para o ser humano à sua frente, que dá um pequenino passo, você passa; encosta na pessoa e de repente você percebe ela lhe encarar com cara feia. Mas é inevitável encostar. Se você fosse a pessoa a dar licença faria o mesmo com o sujeito que se encostou a você. Agora por que todos querem passar por nós e ir para o fundo do ônibus? O que é que tem lá, além da porta, que todo mundo quer ir para lá?

Em dias de chuva é uma coisa muito complicada. Basta uma gota, basta uma gota no ombro de alguém sentado, que este alguém fecha a janela. Dentro de um ônibus sentimo-nos sufocados já ao entrar e ainda tem um ser humano que fecha a possibilidade de o ar entrar. E não podemos reclamar, pois ele está sentado. Ele tem o direito de abrir e fechar a janela quando quiser. É interessante que ficamos com raiva, mas dentro de um ônibus conseguimos manter o autocontrole. Ainda em dias de chuva, há pessoas que decidem fechar o guarda-chuva dentro do ônibus e, com os braços esticados e o objeto encharcado em mãos, molham as pessoas ao passar pela catraca. Tem sempre aquele cidadão, que quando você está sentado, para em pé ao seu lado, com aquele guarda-chuva gentilmente umedecendo seus pés.

Em dias de calor é também bastante complicado. Há também pessoas que fecham as janelas nesses dias. Eu gostaria de ter uma explicação lógica para tal, mas no momento não disponho de uma. O contato físico em dias quentes parece ser obrigatório. Corpos suados, corpos fedidos... Tudo conspira contra você chegar limpo e cheiroso ao seu destino.


Entretanto, os motoristas sofrem. Ao entrarmos em qualquer ônibus é possível ver uma placa enorme de troco máximo. Contudo, as pessoas sempre insistem em pagar com uma nota maior que o troco máximo. Todos nós esperamos compreensão do motorista. Todos nós ficamos revoltados quando damos o sinal e ele não para e lá do fundo gritamos: oh motor! Com um ônibus lotado nem pensamos que o motorista pode ter seu campo de visão diminuído e não perceber que ainda pode ter gente para descer em algum ponto. Daí, lá do fundão, gritamos novamente: oh motor, abre a porta! Ficamos indignados quando damos sinal no ponto de parada e o motorista não para pela razão de o ônibus estar lotado. Mas mesmo assim reclamamos e não agradecemos que ele nos poupou de irmos pendurados nas costas de alguém.


Foi a tiazinha que fechou a janela, foi ela que deixou o guarda-chuva pingando nos nossos pés... Foi o tiozão que roçou as coxas nas nossas traseiras... Foi um idoso que nos roubou um assento... Foi a empresa responsável pelo transporte da cidade que aumentou o valor da passagem... Mas é no motorista que descarregamos a fúria. Com o perdão do trocadilho, dentro de um ônibus, a única vez que perdemos a “linha” é com o motorista. Dentro de um ônibus todos possuem um bode expiatório em comum: o motorista!

Vídeo: Um Busão Lotado (Danilo Anhas)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Mundo de Dentro


Quem nunca se sentiu sozinho? Não falo aqui de sentir-se assim apenas quando privado de companhia... Falo de um sentimento de estar sozinho mesmo quando rodeado das pessoas mais queridas, dos melhores amigos, familiares... Enfim, falo de um sentimento de solidão interna, de um vazio que muitas vezes nem conseguimos explicar. Falo daquele sentimento que comove, que machuca, sem nos darmos conta ao certo dos motivos disso acontecer. Falo daquela vontade de chorar, aquela vontade que, nesses instantes, parece nunca acabar. Mas, mesmo assim, muitas vezes nem dá pra chorar. Se nos propuséssemos a isso, levaríamos dias para chorar tudo o que teríamos aliviar essa dor. E o mais intrigante, por quê?
Muitas pessoas sentem-se assim. Vivem o vazio de suas vidas sem nem se conhecerem direito. Vivem em busca de saber quem são, mas às vezes, cansadas de nunca encontrar um caminho, param. Mas a vida é múltipla. Existem muitos caminhos e não apenas um. A multiplicidade da vida nos proporciona a vantagem de nos sentirmos sós. A sós conosco. Sentir-se só nos abre possibilidades. Somos humanos e por isso somos seres com uma infinidade de sermos, estamos sempre abertos a possibilidades. E às vezes, por não sabermos o caminho, sentimo-nos sós. A volatilidade de relacionamentos, as dúvidas e incertezas diante da vida pessoal, profissional, amorosa... As incertezas e dúvidas com relação a nós mesmos. Mais difícil do que não saber com quem estamos lidando ou com o que, é ter que lidar com nós mesmos. Com nosso interior. Vivemos esta batalha diariamente. Mas não é ruim. Estamos acostumados a dar valor ao que está fora. Todavia, também descartamos coisas que não tem mais valor ou que não nos trazem mais vantagem alguma. E por incrível que pareça, alguns de nós fazem isso não só com as coisas, mas o fazem também com pessoas. Tudo bem, podemos nos livrar daquilo que não nos agrada e ter que conviver ou não com a solidão. Mas uma coisa é fundamental: não podemos descartar a nós mesmos. Podemos tentar, mas é um tiro que sempre sai pela culatra. Não existe só o mundo do lado de fora, existe um mundo que está dentro de nós. Um mundo que se transforma e transforma, que quer ter sua expressão no exterior... Os caminhos que seguimos no mundo de fora se entrecruzam com os do mundo de dentro. Depositar toda a culpa, responsabilidade, esperança ou qualquer outra coisa no mundo de fora, quase sempre é esquecer a importância do que há dentro de nós, no mundo de dentro. As respostas muitas vezes abrigam nosso interior. Sentir-se só, consigo mesmo, é a grande oportunidade de encontrar um caminho e de estar em contato com a multiplicidade do ser, saber lidar com essa angústia e seguir em frente.