quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Clube da Luta: uma crítica (?)

por Danilo Anhas

Freud acreditava nos sonhos como manifestação do nosso inconsciente, instância psíquica que guarda todos os segredos da nossa vida, da nossa personalidade. Mesmo que de forma disfarçada um sonho nos mostra os desejos renegados da mente. Se são negados é que esses desejos nos fazem sofrer, causam conflitos. Uma das formas de não os fazer vir à tona através dos sonhos é não dormir. Que desejos tem o personagem principal de “Clube da Luta” a ponto de implorar por medicação a um especialista, após ficar 6 meses sem dormir?
Ao invés de remédio – acho que os médicos todos poderiam ser como esse do filme – o médico sugere que o personagem principal visite um grupo terapêutico de homens com câncer testicular, assim suas afirmações de que sofre com a insônia perderiam toda a razão de ser. Logo no início já se percebe a dificuldade do protagonista entrar em contato consigo mesmo, seja por conta da insônia, seja também por preencher o vazio de sua existência consumindo e mobiliando seu apartamento.
Tamanha é a dificuldade para entrar em contato íntimo consigo mesmo, que finge ser várias pessoas em vários grupos terapêuticos. Ou seja, para tentar encontrar seu eu, ele experimenta outros papéis, identifica-se com eles e isso surte efeito.
Todas essas dificuldades vividas por ele são as vividas por muitas pessoas. Mergulhamos num determinado tipo de existência sem sequer perguntar quem somos nós. Afundamos nas mazelas do sistema capitalista, esquecendo-nos da ética que deve permear nossos valores e moral. É como se a sociedade reprimisse nosso eu, fazendo-nos viver no automático; o próprio personagem, que no começo é Rupert, Cornelius, é quase um robô, funcionando no automático, ingênuo e abobalhado.
Quase um ano depois frequentando os vários grupos terapêuticos e depois de ter se livrado da insônia, um pesadelo em pessoa começa a lhe fazer lembrar do mal de antes: Marla Singer, uma impostora que assim como nosso protagonista passa a frequentar os mesmos grupos. Assim o insone rapaz não consegue mais representar papéis diante de uma pessoa que faz a mesma coisa. No fundo, os dois encontraram nos grupos uma possibilidade de compartilhar experiências, de serem ouvidos e ouvirem. Espaços como esses estão ausentes em nossa sociedade, mesmo nas famílias, onde o pai trabalha muito e chega cansado todos os dias, realidade não muito diferentes das mães. Isso para citar um exemplo apenas.
Marla o incomoda muito mais que a insônia. Ela é a própria insônia. Marla o faz viver fantasias sexuais, algumas delas possivelmente inconscientes, eróticas e até de destruição. Ele não consegue lidar com isso e decide se afastar de Marla. Ao fugir ele não foge especificamente dela, mas sim do que ela representa em sua mente.
Concomitantemente, ele vive uma tremenda solidão, sobretudo em suas viagens a trabalho, de avião. Em todas elas conhece pessoas durante os voos que chama de amigos “porção única”. Isso reflete a fluidez dos contatos sociais da atualidade, ideias bastante trabalhar pelo sociólogo Bauman. As pessoas se concentram no momento e apenas nisso, no instante. Usam as pessoas como mercadorias mesmo, numa tentativa inócua de lidar com a solidão dos tempos modernos. E é “voando” – e aqui cabe perfeitamente um trocadilho com o verbo – que ele conhece o melhor amigo “porção única”: Tyler Durden. Já no voo os dois se identificam.
Tyler representa para o nosso amigo insone aquilo que ele gostaria de ser, talvez uma juventude perdida, não à toa escolheram Brad Pitt para o papel. Tyler surge como um hedonista – corrente filosófica que diz que o prazer é o bem supremo -, viril, inteligente, mas com aspectos rústicos, aqueles condenados pela sociedade: mijar na comida e falar de sexo sem pudor. Tais características o insone não vislumbrava em si mesmo, o que o leva a admirar mais e mais Tyler.
Após voltar do voo no qual conhece Tyler, retorna para o apartamento onde mora e o descobre em chamas, completamente destruído. É um choque para esse consumista que até cogita em pedir ajuda para Marla, mas o faz com Tyler pelo telefone: a ‘ligação” entre ambos se estabelece.
Tyler não o consola, apesar do insone estar aparentemente abatido por ter perdido seus pertencentes tão valorizados pelo seu consumismo que o outro acusa de ser insensato. Tanto que o adverte sobre o consumismo, utilizando conceitos marxistas, tais como o de fetiche da mercadoria e diz: você é aquilo o que você compra. Mas isso Tyler não valoriza. Dessa forma, insere outra visão de mundo para o insone, que começa a ver as coisas sob outra ótica.
Ao saírem do bar onde essa conversa rola, Tyler pede que o insone lhe bata. No começo acha ridículo o pedido, mas acata. Os dois brigam e se arrebentam. Passam a morar juntos numa casa abandonada, totalmente insalubre. É uma mudança radical na vida do nosso insone, que continuo o chamando assim apesar de ter voltado a dormir bem novamente.
As sessões de briga continuam naquele bar e começa a agregar novos membros. Formam um grupo secreto com suas próprias regras do qual somente homens podem participar. Paradoxalmente em todas as brigas os elementos lealdade e respeito estão presentes. Lutar é forma de libertação. A agressividade é algo com o que tentam lidar, eles não a negam tal como fazemos na sociedade, que em lugar de tentar compreendê-la, a reprime.
Cabe ressaltar que nessas lutas há intensa presença do masoquismo e sadismo, conceitos basicamente psicanalíticos de Sigmund Freud. Sentem prazer em apanhar como uma maneira de se livrar dos desejos mundanos, ou como forma de punição por nutri-los. Sentem prazer em bater, punindo aqueles que desejam as coisas do mundo, livrando-os desse mal.
Além disso, pode-se dizer que há certa valorização da juventude no sentido de viver perigosamente, sem se preocupar com as consequências, elemento marcante na personalidade de muitos jovens e adolescentes. E se esse tipo de conduta diz respeito à juventude e a juventude é um valor que até os mais velhos desejam possuir, esse “viver perigosamente” não é algo fortuito nem peculiar somente aos adolescentes e jovens, pois numa sociedade que valoriza a juventude, todos querem ser jovens e se manter assim. Lembra-se aqui da cena do acidente de carro. A própria formação de um grupo, o Clube da Luta, é algo muito peculiar da adolescência, isso porque os adolescentes tendem a andar e formar grupos numa busca de se identificar com coisas novas.
Esse grupo tem um líder, e ele é Tyler Durden, um líder aparentemente democrático – embora eu não ache que ele seja – que comanda as ações do grupo, estas que passam a ser mais terroríficas e se dirigem à sociedade: explodir lojas, brigar com os outros e ameaçar as pessoas... É como se todas essas ações fossem a antítese para uma sociedade consumista.
Um filme americano de sucesso fazendo crítica ao consumismo? Nem pensar! O insone retratado como problemático descobre em meio a muito confusão que ele próprio é Tyler: o criador e líder de um movimento que agora pretende gerar o caos explodindo prédios de cartão de crédito/débito. Tal movimento se espalhou pelo país inteiro sem Tyler saber.
Durden, a projeção idealizada e alucinada do pobre insone, faz todas essas atrocidades sem perceber. Inclusive Marla o acusa de ser instável e problemático. Ele é o louco que de repente se rebela contra o sistema, querendo muda-lo através de atos violentos, embora ninguém de sua gangue mate ninguém. Aliás, o filme peca, pois trata da violência como partindo unicamente do Clube da Luta. Tudo bem que um de seus membros morra, mas ele morre por estar fazendo uma coisa “errada”.
Separo um trecho de Paulo Freire (p. 58) no qual ele diz: “Inauguram a violência os que oprimem, os que exploram, os que não se reconhecem nos outros; não os oprimidos, os explorados, os que não são reconhecidos pelos que os oprimem como outro.” A violência tem início nos que estão no poder.
E sobre o desejo de mudança, o que falar? Quem deseja mudar o mundo e o sistema um insano, louco, maluco, que sofre de insônia? No final ele consegue destruir os prédios, o plano final. Após travar uma luta consigo mesmo, assume a própria personalidade. Era isso, afinal, contra o que ele lutava em suas crises de insônia: aceitar que não aceita o sistema e seu modo de vida. Atinge seu objetivo, mas o que vem depois? O caos? O caos nem sequer é mostrado. O filme acaba. O caos é retratado ao longo do filme como problemas individuais: o cara com câncer, o insone maluco, a mulher suicida... De alguma forma as histórias se cruzam, mas quando o caos vai se instalar de forma geral, na sociedade, não se exibe.
Eis o fim. Não se mostra o caos, ele fica num plano mais individual e assim continua a ser: se tudo está ruim na sociedade é por culpa dos sujeitos e só isso. Aliás, talvez culpa daqueles que ensejam mudanças. Aliás, lutar para mudar a sociedade é loucura e é assim retratada no filme. Você esperava que um filme da sociedade mais capitalista fizesse apologia à transformação social?

Para os donos do poder somos apenas uns babacas que repetem tudo o que eles ditam, tais como aqueles que explanam repetidamente “Robert Paulsen”. Talvez a crítica resida aí, mas estaríamos novamente culpando as pessoas por nossas mazelas. No fundo, quando Tyler aceita quem é, ele aceita a sociedade em que vive. Tanto que o caos não se mostra. O filme acaba. Ele se conforma, pois mata aquele que enseja mudanças. Mudanças? A união dos membros do Clube da Luta deveria ser em prol da transformação e não da destruição. Para encerrar, novamente Paulo Freire (p. 61): “[...] a superação autêntica da contradição opressores-oprimidos não está na pura troca de lugar, na passagem de um polo a outro. Mais ainda: não está em que os oprimidos de hoje, em nome de sua libertação, passem a ter novos opressores”. E Tyler é oprimido, oprime e depois? Ele se liberta? O filme acaba. Não se mostra.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Passado, Presente, Futuro...


Não há como entender o momento presente se antes não houver uma compreensão do passado e do futuro.

Nós todos vivemos entre o que passou, o que está passando e o que ainda vai passar. Não é só o passado que determina o presente. O presente é multideterminado.

Todo desejo realizado não o é sem antes ser desejado no passado. Mas todo desejo busca uma satisfação futura. Passado, presente e futuro se encontram o tempo inteiro. Tempo é uma dimensão abstrata que busca refúgio no concreto. Não há como pensar em um ser humano concreto sem antes considerar o ser humano abstrato e implicado em um tempo, que ao mesmo tempo é presente, futuro e passado.

Ninguém age no presente sem antes se inspirar no passado e sem se motivar pelo futuro. Presente não é nem efeito do passado nem causa do futuro; o presente simplesmente é.

Presente é ser humano, um humano que não pode ser compreendido apenas a partir do passado, nem do presente, nem do futuro. O ser humano é resultado de um processo onde o nada e o tudo somaram a si mesmos.

Dedico este post à minha amiga Andressa Farias, que foi a primeira a lê-lo. E também ao meu amigo Felipe.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

LUTO

Não foi o erro de um homem só, foi o erro de uma sociedade inteira. Infelizmente 13 crianças pagaram por isso sem saber e sem poderem se defender.

A nossa própria presidente mencionou na data de hoje, que esse tipo de crime nunca ocorreu no Brasil... Estava demorando para brutalidade como essa acontecer. E aconteceu numa escola do Rio de Janeiro, em Realengo.

Isto reflete, dentre outras coisas, a decadência dos nossos valores morais em detrimento do amor ao próximo na nossa sociedade. O culpado não é só o Wellington Menezes Oliveira. A sociedade inteira é culpada pelo modo como as coisas tem sido. Da mesma forma que assumimos a dor quando este tipo de fatalidade acontece, devemos assumir também a responsabilidade por tais fatalidades.

[LUTO]

Em homenagem às vítimas e familiares, uma música com uma boa mensagem: Let There Be Love... Em outras palavras, "deixemos que exista o amor"...


Abraços!

sábado, 2 de abril de 2011

Roubado Vivo na Véspera de 1° de Abril


Este é apenas um relato verdadeiro de algo que aconteceu na minha vida, na véspera do último 1° de Abril, o dia da mentira. Sou o tipo de pessoa que decora vários números de telefone.

Contudo, levo muito tempo para decorar o meu próprio número, porque não ligo para mim mesmo nunca! Mas, cinco anos de muito esforço esvaíram-se! Levei cinco anos para decorar a básica sequência numérica: 9703-3846. Já tinha até me acostumado a ela. Mas dois sujeitos a levaram de mim na véspera de primeiro de abril. E levaram também todo o dinheiro que eu tinha naquele dia.

Mas o dinheiro é o de menos... Estes dois sujeitos romperam o vínculo que eu tinha com essa sequência numérica. Muitas coisas boas aconteceram através desses números, desde propostas de empregos a propostas para outros tipos de “entrevistas” (aqui deixarei margens à sua imaginação). Estava eu, tranquilamente andando por uma rua movimentada, quando isso aconteceu. Ainda resisti e não quis deixar ninguém levar o meu celular. Meu celular! Por ele as pessoas podiam me achar. Ele me ajudava a ser um cidadão do mundo. Estava cadastrado sob o registro 97033846. Mas agora, já era! E já era mesmo. Só de raiva, minutos depois dessa tragédia, liguei para a minha operadora e ela não vai deixar mais ninguém ter o vínculo que eu tinha com 9703.3846. Pelo menos por enquanto...

Aos dois sujeitos que carregaram consigo o instrumento que mediava minha relação com a sequência numérica mencionada acima, minhas lamentações por este instrumento não estar em boas condições nem de uso, nem de revenda. O valor daquele aparelho não chega perto do valor das boas lembranças que ele já me trouxe através do bom e velho 9703-3846.

Não sei se o pior de tudo foi ter que contar para as pessoas essa história de assalto no dia da mentira, ter perdido meu aparelho ou fazer este post dedicado a ele.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A Importância do Psicólogo

Este texto não tem como intenção excluir as outras possibilidades de atuação de um psicólogo ao falar sobre a importância do psicólogo clínico, visto que este profissional pode atuar em hospitais, empresas, instituições, universidades, escolas, etc.

Há de se considerar a hipótese de que grande parte das pessoas acredita ser o psicólogo um “médico da cabeça”. É também um estigma carregado pela profissão que psicólogo é para os loucos. Temos que pensar antes disso o que é ser louco e o que é ser normal. Para definir o que é louco, há de se definir o que é normal. Este não é o intuito deste escrito, mas, como diz Caetano Veloso “visto de perto ninguém é normal” (fica a dica).

Há outro fator importante a ser considerado. A psicologia é uma ciência que, felizmente ou infelizmente, carrega consigo características de um modelo médico (essa visão tem sido mudada aos poucos. Ainda bem!). Quantas são as pessoas que consultam um médico antes de ficarem doentes? Quantas são as pessoas que procuram um médico com o intuito da prevenção? Acho que uma minoria.

Voltando essas questões para o âmbito da psicologia, quantas são as pessoas que desejam procurar um psicólogo e não o fazem por considerarem o psicólogo um médico para os loucos? Fazer isso seria levar em conta a própria loucura e ninguém quer assumir para si a própria “insanidade”. Mas fica a questão: o que seria insanidade e sanidade? Isso nem Freud conseguiu explicar (e olha que explicou e ajudou a explicar muitas coisas).

O fato é que não se precisa procurar um psicólogo apenas quem está “doente da cabeça”, como diria o senso comum. As pessoas (todas elas) vivem conflitos dentro de si e o psicólogo é o profissional que pode auxiliá-las a encontrar a solução para tais conflitos. Quem nunca teve dúvidas na vida? Uns as vivem mais, outros menos.

O psicólogo não é um bruxo que vai resolver tudo na vida de alguém. Mas no setting terapêutico ele instiga o sujeito a pensar e repensar situações de sua vida, através de técnicas que essa ciência se esforça em aperfeiçoar. E dá resultados! Não é preciso “chegar ao fundo do poço” para se procurar um psicólogo.

O mais interessante em uma situação de psicoterapia é quando o próprio cliente procura o psicólogo. Isso pode ser um indicador de sua “sanidade” (entre aspas porque não existe sanidade nem insanidade). Isso também pode ser um indicador do desejo de uma mudança. Muitas pessoas tem medo de mudar, pois mudança gera incertezas e ameaças de sair da zona de conforto. Quando as pessoas querem mudar e não sabem ao certo o caminho a seguir (o que é freqüente), é no que se dá a importância do trabalho do psicólogo. A partir do diálogo com um especialista ela pode encontrar as respostas que procura para sua vida. A partir desse diálogo ela pode entrar em contato consigo mesma em busca do autoconhecimento, tão necessário em uma sociedade em que as pessoas só sabem se concentrar, entre outras coisas, nas contas a pagar e em manter o emprego.

O diálogo com um especialista é diferente de um diálogo com amigos, parentes, etc. É um diálogo que possui o intuito de gerar mudança. Não que uma conversa com pessoas conhecidas não ajude alguém a mudar. Mas o diálogo com pessoas conhecidas não leva em consideração apenas o sujeito que quer mudar. O diálogo com o psicólogo, embora assim como o diálogo com pessoas conhecidas, tem afetividade, mas possui características que o diálogo com conhecidos não tem. O psicólogo (o bom psicólogo) busca ao máximo ser imparcial, neutro.

É muito importante termos pessoas com quem contar. Nossos pais, amigos, irmãos, etc., nunca serão imparciais conosco como um psicólogo é. É claro que um psicólogo leva em consideração, além de sua técnica, suas experiências de vida (o que não o torna 100% imparcial, mas o aproxima disso). Mas ele (o bom psicólogo, repito) sempre levará em consideração o sujeito sui generis que se lhe apresenta.

É muito importante termos relacionamentos com as pessoas. Nossos pais, amigos, avós, vizinhos, colegas de trabalho, enfim, eles sempre tem algo a dizer e podemos muito aprender com eles. Só que há coisas que não queremos ou não podemos conversar com pessoas queridas. E isso nem adianta insistir. Então, eis que aparece a figura de um profissional que possa ouvir, ter empatia, ser autêntico: o psicólogo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Criança Dentro De Nós

O texto abaixo eu escrevi no dia 01 de março de 2011. Inspirei-me, para escrevê-lo, no que uma professora minha da faculdade, Lumena Celi, disse: "a maturidade dos adultos diminui sua espontaneidade". O assunto da aula era sobre Moreno, o pai do psicodrama. Dedico o texto ao meu amigo Marcus Vinícius, que foi o primeiro a lê-lo. Segue...

Acordar cedo pela manhã e não conseguir enxergar nada no espelho, além de nossos próprios olhos pedindo “pelo amor de Deus, continue sonhando”. Pois é, o tempo passa. E muitos dos sonhos que nós tivemos quando éramos pequenos começam a diminuir. Não basta lembrarmos desses tempos e nos colocarmos a lamentar por coisas que gostaríamos de ter feito e não fizemos. Assim como na época que esses sonhos eram reais e estavam vivos na nossa mente e nós conseguíamos vivê-los, temos de tentar recuperá-los. Não basta lembrar que um dia sonhamos, temos que viver estes sonhos novamente. Os sonhos alicerçam as nossas vidas, nossos desejos e fazem aquilo que somos ou o que desejamos ser.

Isto faz parte de uma luta para não deixarmos morrer a criança que existe dentro de cada um de nós. Quando nos tornamos adultos perdemos muito da espontaneidade, sinceridade e sensibilidade que tínhamos na infância. Por que isto deveria ser um privilégio das crianças? A sociedade cobra certos tipos de conduta e acredita que deixar viva a criança dentro de si é agir como um adulto infantilizado ou imaturo, ou os dois.

Acredito que ser maduro é não estar aberto ao novo. Alguém que se diz maduro poderia muito bem dizer: não vou fazer isso, outro dia eu fiz e me dei mal. Essa frase mostra duas coisas, primeiro que a pessoa que a diz tem a capacidade de aprender com seus próprios erros. Mas segundo, pode mostrar que ela tem medo de arriscar ir por outro caminho. As pessoas, em geral, se preocupam muito com os resultados, quando na verdade o mais importante é o processo que leva a determinado fim. O excesso de confiança na própria experiência impossibilita, às vezes, que possamos adquirir mais experiência, nos entregando ao que é novo. A criança não teme experiências novas, ela arrisca. Quando adultos a “experiência” mostra o que deve ou não ser feito. Daí não tentamos novos caminhos.

Não se trata de sair por aí chorando quando algo lhe é tomado, dizendo o que pensa e o que sente para todo mundo ou chamando alguém de feio ou bonito só porque achamos isso. Não se trata também de desprezar a sua própria experiência. Deixar viva a criança dentro de si é ser capaz de sempre estar aberto ao inédito, de ser espontâneo, criativo, mantendo a capacidade de sonhar. A vida e a sociedade já nos restringem demais. Por que fazer isso com nós mesmos? Os caminhos da vida são indicados pela experiência e pela maturidade. A criança dentro de nós busca os atalhos.

Falando nisso, quais são os seus sonhos? O que você quer ser quando “crescer”? Quais os caminhos pelos quais você ainda quer percorrer? A criança dentro de você está viva? Está dormindo? Tirou férias? Ou está morrendo aos poucos sem que você tenha se dado conta? Lembre-se: sempre há tempo.



Abaixo o vídeo de uma música que tenho ouvido bastante...



http://www.youtube.com/watch?v=pcOJu0g8dbw

Abraço!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amor Descartável


Longe de tentativas de reduzir esse assunto tão complexo, vou apenas lançar uma pequena reflexão sobre ele.


Nós vivemos em um mundo imediatista. Queremos que a pizza chegue logo. Queremos que o site carregue depressa. Queremos que nossos amigos atendam os nossos telefonemas e respondam com rapidez os nossos torpedos, SMS ou seja lá o que for. Queremos logo uma porção de coisas. Enfim, a tecnologia agilizou muitas coisas nas nossas vidas. E ela nos deixou mal acostumados também...


E ainda tem o capitalismo atrelado a tudo isso que foi mencionado. Ah, como somos ingênuos ao deixar que esse sistema influencie também no nosso modo de nos relacionarmos com os outros. Será que alguém já parou para pensar nisso? Bom, vamos lá...


Celular novo hoje. Bom, hoje ele está novo. Amanhã surge um novo modelo e queremos trocar aquele que nós temos. Quantas pessoas tiveram um Super Nintendo e assistiram, com o passar do tempo, a transformação tecnológica dos vídeo games? E dos aparelhos de televisão e dos computadores? E os MP alguma coisa? Eu acho que a contagem dos MP começou no 3 e agora está no MP sei lá que número. Mas o que interessa é que fomos trocando o que não serve mais pelo novinho em folha! Tudo bem! Isso ajuda a economia, o capitalismo, gera empregos, gera progresso! Mas o que isso gera nos relacionamentos amorosos? E alguém hoje em dia tem tempo para pensar em amar?


Paulo está ficando com a Ana. Paulo agora está ficando com a Andressa. E agora com a Mariana. E agora com o Pedro (brincadeirinha)! Os adolescentes “ficam” a fim de se descobrirem e de se apropriarem de si mesmos. Será mera coincidência a semelhança desse trocar de parceiras com o trocar de celular ou de vídeo game pelo o da última geração? Isso porque estou falando do “ficar”... Imagine que hoje em dia já se fala em “pegar”! Eu os chamaria de relacionamentos instantâneos. Relacionamentos com prazo de validade. Infelizmente nós viramos mercadorias de nós mesmos.


É verdade. Nós nos vendemos! Por exemplo, na Internet. Fotos, frases de efeito... Quem é a pessoa que escreve a verdade no “quem sou eu” do Orkut? A maioria coloca trechos de músicas, poemas, uma foto, ou simplesmente não coloca nada. Dificilmente paramos para pensar na resposta para essa pergunta: “quem sou eu?”. Daí surge a Internet: o instrumento para sermos quem nós queremos ser! Ual! A nossa salvação! A salvação para nosso tédio! Com ela temos o controle sobre nossas vidas através de um clique no mouse. Com ela podemos vender a melhor imagem nossa! Maravilha!


Enfim, longe de fazer generalizações, percebo que a maioria dos relacionamentos tem se tornado vazios, servindo apenas para preencher o vazio e a falta de sentido que a vida tem adquirido nos últimos tempos. Só que a vida tem sentido. É que nós dificilmente paramos pensar a respeito dele. Os relacionamentos atuais se ligam intimamente com a descartabilidade do mundo da tecnologia, mencionada acima; ganharam um caráter fugaz. É como se algumas pessoas estivessem ficando ou pegando, não só para experimentar, mas também para “usar” e muito provavelmente, “descartar” por outro alguém “novinho em folha”.

Recomendo o livro de Zygmunt Bauman, “Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos”, que serviu como inspiração para a feitura desse texto.